Há neste pequeno livro de Clei Souza, O suicidado e outras histórias, uma aguçada percepção das linhas de vida e de seus modos de sobrevivência num mundo no qual o sentido foi, há muito, derrotado. Tais linhas passam subterrâneas às superfícies mais comuns, por fora dos centros e dos paradoxos da vida ordinária. Clei Souza ingressa pelas derivas, no coração das veredas mais remotas, entre paisagens de lugares outros, para finalmente ouvir, traçar os infortúnios e também sutilezas de vidas contorcidas entre a melancolia e o fim.  
Fala-se das formas de vida que, por estarem numa outra rotação, se deslocam de maneira intransitiva, por vezes sem sair do lugar. Em alguns casos, movendo afetos-sujos ou assombros, a partir de experiências que beiram o insuportável, em reveses de toda ordem, no extremo, sempre no extremo das adversidades, num tempo árido, pelas superfícies mais longínquas da atmosfera norte. 

Nilson Oliveira
(escritor e ensaísta, editor da revista polichinelo)