Antropoceno
São linhas, por vezes traços ou rasuras, devidamente conformadas numa elaboração, por assim dizer, na esfera do trabalho da escrita, numa relação ativa, baseada num fluxo incessante, cuja persistência culmina em travessia, com atenção aos relevos e linhas, mas também as erosões e aberturas, no anseio de depreender - por entre tais superfícies – uma experiência literária.
Tais linhas são experimentações com nuances múltiplas, por conseguinte, de um povo que não cessa de vir e partilhar seus afetos, em reiterado processo de encontros, desencontros e evasão. Sim, essas são escritas que se movem, delineando pequenas cartografias, com amizade pelo que excede os limites do interrompido e do ininterrupto. E neste norte, numa circularidade sem fim, feito animal errante, dobra os extremos de outra terra, no vislumbre de outra, e de outra: com todo furor, nos laços do imprevisível.
E nessa rotação se alastram, por vezes para além da literatura, indissociáveis de uma força através da qual a experiência do escrever se compraz num regozijo, cujas possibilidades – as mais furtivas – oscilam entre abertura e devir.
«LIÇÕES DE CONTINENTE» são lances e rasuras no limiar da experiência do escrever. É um projeto inspirado no «espaço literário» da escritora Maria Lúcia Medeiros (1942-2005), para quem a escrita significa o furor («a língua estranha»), que rompe fronteiras, diluindo identidades, em favor de um «horizonte». Consistem em experimentações, no círculo das escritas mais heterogêneas, modeladas em pequenas publicações: plaquetes e outros objetos, sempre com autores contemporâneos.
Nilson Oliveira
(escritor e ensaísta, editor da revista polichinelo)

Gênero: poesia
08 páginas
15x21,5cm